Professor Doutor Altamiro Barbosa Machado (1944-2001)

Na manhã do dia 23 de Março de 2001 a academia minhota foi surpreendida com a notícia do falecimento súbito do Professor Altamiro Barbosa Machado. A notícia deixou consternados os seus colegas, estudantes e todos aqueles que o conheceram no âmbito da sua profícua actividade profissional.

O Professor Altamiro Machado nasceu a 2 de Agosto de 1944 em São Pedro de Avioso, Castelo da Maia. Fez parte dos seus estudos do ensino básico na Venezuela onde viveu cerca de 5 anos.

Regressado a Portugal em 1958, completa o ensino secundário no Colégio João de Deus no Porto. Em 1964 ingressa na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto onde, em 1970, conclui a Licenciatura em Engenharia Electrotécnica. Ainda nesse ano vai para Moçambique onde é admitido como Auxiliar de Investigação e Assistente no Departamento de Engenharia Electrotécnica da Universidade de Lourenço Marques. Em 1972, como Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Universidade de Lourenço Marques, inscreve-se como estudante de pós-graduação no Departamento de Sistemas e Controlo do Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade de Manchester (UMIST) no Reino Unido, onde em 1976 conclui o seu doutoramento. Está em Manchester quando os acontecimentos de Abril de 1974 em Portugal põem em causa a possibilidade de regresso à Universidade de Lourenço Marques. Acaba por aceitar o convite deixado pelo Professor Joaquim Barbosa Romero que na altura passou por diversas universidades do Reino Unido num trabalho de recrutamento de docentes para a recém-criada Universidade do Minho. É assim que em 1976 ingressa na Universidade do Minho onde, à data do seu falecimento, era Professor Catedrático da Escola de Engenharia e director do Departamento de Sistemas de Informação.

A área de interesse do Professor Altamiro Machado foi a Informática. E se para os informáticos de hoje esta delimitação de interesses pode parecer vaga, é a única que lhe faz justiça.

Os computadores sempre exerceram nele algum fascínio. Ainda num texto recente, infelizmente inacabado, o Professor Altamiro Machado referia os tempos que, enquanto estudante do liceu, passava a admirar uma impressora que a IBM exibia, em pleno funcionamento, na montra da sua delegação do Porto. Posteriormente, enquanto estudante de Engenharia, teve a oportunidade de lidar com computadores, pertencendo assim, e nas suas próprias palavras, “à primeira geração de privilegiados que teve acesso ao ensino da Informática na Universidade Portuguesa”. Enquanto estudante de pós-graduação e no âmbito dos seus trabalhos de investigação em controlo no Departamento de Sistemas e Controlo do UMIST volta ao contacto com os computadores. A tese de doutoramento que defendeu em 1976 intitulava-se “The Computation of Optional Trajectories”. É no entanto com o seu ingresso na Universidade do Minho que a sua ligação à informática aparece mais nítida. Logo em 1976, propõe uma reformulação do ramo de Sistemas da Licenciatura em Engenharia de Produção por forma a conferir-lhe uma formação mais orientada para a informática e tornando-a numa das primeiras licenciaturas do país - se não a primeira - na área. É a partir deste curso que, pouco tempo depois, se autonomiza a Licenciatura em Engenharia de Sistemas e Informática que ainda hoje constitui um curso de referência nacional de entre os cursos em engenharia informática.

Nas primeiras edições do curso, e dado ser um dos poucos docentes doutorados com responsabilidades na área específica do curso, define e lecciona muitas das disciplinas de especialidade à medida que estas vão iniciando o seu funcionamento. Na sequência da contratação de mais docentes para o que viria a constituir o Departamento de Informática da Escola de Engenharia, foca os seus interesses na Informática de Gestão. Esta sub-área da

informática abarcava um conjunto de disciplinas cuja leccionação assegurou até constituir o seu grupo de trabalho: Processamento de Dados, Análise de Sistemas de Informação, Bases de Dados, Implementação e Gestão de Centros de Computação e ainda outras cuja designação de Opção permitia adaptar os conteúdos a temas emergentes, numa altura em que a Informática dava os primeiros passos como domínio académico.

O seu interesse pela informática nas organizações leva-o a aceitar o desafio de participar na constituição de uma empresa de produtos informáticos – a Datamatic. Esta empresa foi, no seu tempo, inovadora não só no modo de satisfazer as necessidades informáticas dos seus clientes – através da venda de “soluções informáticas” prontas a serem utilizadas - mas também na solução que encontrou para desenvolver os seus produtos. Ao contrário da prática corrente dos seus concorrentes de recrutar para programadores técnicos com habilitações mínimas – o equivalente ao actual 9º ano – a Datamatic recrutava licenciados para os seus quadros.

O seu regresso em regime de exclusividade à universiade após esta experiência empresarial, leva-o à Informática no Ensino, área de interesse que viria a manter atá à actualidade. É a época do Projecto Minerva, o programa nacional de introdução e disseminação da informática nas escolas secundárias. Também aqui a acção do Professor Altamiro Machado se pautou pela originalidade e inovação. Ao contrário de outros pólos do Projecto Minerva que centraram a sua actividade na produção de software educacional, no pólo do Minho assistia-se essencialmente à formação em informática de professores do ensino secundário e à promoção de projectos que pudessem funcionar como agentes de inovação e disseminação da informática nas escolas. É também com esta preocupação que promove a fundação da Associação Portuguesa de Informática no Ensino.

Sempre atento ao evoluir da tecnologia informática, no início da década de 90, o Professor Altamiro Machado interessa-se pelos sistemas multimédia o que o leva à criação de um grupo de investigação nesta área. É aliás esta a temática que escolhe para a lição que profere no âmbito das suas provas de agregação em 1993. Posteriormente é a tecnologia das comunicações informáticas que lhe desperta a atenção e enforma a sua visão do papel da informática no ensino, centrada na viabilização de comunidades distribuídas de aprendizagem, comunicando e partilhando conhecimento através da “rede”.

E se bem que seja na área da Informática no Ensino que o Professor Altamiro Machado atingiu uma maior notoridade a nível internacional, no plano nacional a sua figura nunca esteve desligada da área que iniciou na Universidade do Minho – a Informática de Gestão ou Sistemas de Informação. Nos finais da década de 80 promove a criação da Licenciatura em Informática de Gestão cuja 1ª edição se inicia no ano lectivo 1990/1991 e da qual foi o primeiro director de curso. Em 1992 integra a comissão instaladora da Associação Portuguesa de Sistemas de Informação. Em 1999 é eleito director do recém formado Departamento de Sistemas de Informação, cujos principais projectos pedagógicos incluem a já referida Licenciatura em Informática de Gestão e o Mestrado em Sistemas de Informação.

Uma referência justa ao Professor Altamiro Machado não se esgota no entanto com a descrição dos seus interesses académicos, dos projectos que promovia, dos (numerosos) estudantes que orientava ou das publicações que resultavam destas actividades. Todos aqueles que com ele conviveram irão lembrá-lo sobretudo pela atitude de inquietação permanente que assumia e pela invulgar capacidade de associar ideias, conhecimentos, projectos e pessoas numa “malha” que continuamente tecia.

“O que é que faz?” Esta era a pergunta que dirigia aos seus orientandos, aos membros do departamento, aos colegas da Universidade do Minho ou a qualquer outra pessoa que reencontrava ou que acabava de conhecer. A resposta que lhe era dada a esta questão desencadeava de imediato uma série de associações e de novas ideias que já só surpreendia aqueles que o não conheciam bem e que deixava em séria aflição os seus estudantes de pós-graduação, ainda a tentarem estreitecer o âmbito dos seus trabalhos de investigação.

O falecimento do Professor Altamiro Machado constitui uma considerável perda para a Universidade do Minho e em particular para o Departamento de Sistemas de Informação onde o seu inconformismo, capacidade de inovação e facilidade de estabelecimento de novos contactos imprimiam grande dinamismo.